Luliberalismo

Luliberalismo


“O Lula está dentro do sistema, sua mente está dentro do poder econômico, como a do Fernando Henrique. Só que o Lula vem por baixo, o Fernando Henrique por cima. Eles estão se acotovelando, as duas equipes, para executar o mesmo programa: neoliberal.” – Brizola, Roda Viva, 1994 (youtu.be/ju9o81Cjutg).

Isso foi antes da primeira eleição de FHC! Mesmo em 2002, quando o dólar bateu R$4 em receio ao comunismo de Lula, teria soado como um devaneio de um político envelhecido (Brizola faleceu 2 anos após). Vinte anos depois, é praticamente uma profecia.

Há quem ainda se surpreenda com a afirmação de que Lula é um liberal. E o Bolsa Família? Não é assistencialismo? Não, é o imposto de renda negativo de Milton Friedman, patriarca da Escola de Chicago, na qual é baseado o Consenso de Washington. O mesmo Friedman que propôs os cupons escolares, implementados no Brasil como Prouni. E o MCMV? Financiamento subsidiado porém para compra de imóveis no mercado aberto, muito diferente da COHAB, moradia estatal, do regime militar, e do Cingapura de Maluf. Agora o governo sob Dilma, do qual, segundo ela mesma, Lula nunca saiu, trabalha com as seguradoras privadas para expandir o acesso à saúde da mesma forma que fez Lula no Prouni com as faculdades privadas. Sem falar nas concessões de exploração de estradas, aeroportos e petróleo.

Isso não significa dizer, porém, que o PT é um partido liberal. Lula e o partido que ele liderou para alcançar seus objetivos (seja lá quais forem) não são um monobloco. As diferenças começaram a ficar evidentes já na eleição de 2002, em que Lula trocou as alianças mais à esquerda pelas ao centro. Foi quando surgiu o PSOL, liderado por Heloísa Helena. E elas persistem. Nas eleições municipais de 2012, quando questionado sobre a ONGuização da saúde paulistana, “Haddad afirmou que é ‘mais aberto’ que o PT e [iria] trabalhar para ‘fortalecer’ as parecerias [com as ONGs], que ganharam impulso na gestão [Serra/]Kassab” (Folha). O PT, junto com o PDT, chegaram a questionar no STF a constitucionalidade das parcerias com as ONGs. Outra evidência flagrante da tensão entre o Lulismo e o Petismo é essa digressão assinada por Tarso Genro no Orçamento de RS para 2014:

“Uma indefinição permanece. O novo papel do Estado ou avançará no sentido de iniciar uma transição ao socialismo ou ficará restrito a uma reforma do capitalismo que fortaleça a autonomia de suas burguesias nacionais e promova sua ascensão à situação de competidoras no cenário mundial a partir da consolidação, com o apoio de seus governos, da condição de “campeões” empresariais regionais.”

Lula é categórico:

“Eu não quero um Estado gerenciador; eu não tenho vocação para um Estado empresarial [i.e. socialista]. Eu tenho vocação para um Estado indutor [i.e. desenvolvimentista] e fiscalizador [i.e. liberal].” – Lula, documentário Presidentes da América Latina, 2009 (youtu.be/wMDvvjJ6rxM).

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