Afinal quem é classe média?

Afinal quem é classe média?


A eterna controvérsia sobre a redução da desigualdade e da ascenção social no Brasil gira em torno da definição do que é ser pobre, rico e classe média. As bandas de renda divulgadas pelo governo, em que a classe média é definida como aquela que tem renda mensal de R$291 a R$1.019 per capita ainda causa para muitos perplexidade. Antes de mais nada, isso é renda per capita, não salário. Uma família de 5 com renda familiar mensal de 2 salários mínimos, por exemplo estaria no limite inferior dessa banda. A despeito do que muitos imaginam, especialmente os nos centros urbanos do Sudeste, um em cada quatro brasileiros vivem com menos que isso. E o próximo desses quatro não vive com muito mais: R$440 mensais por pessoa, R$15 por dia. Portanto a banda está bem centrada. Por isso esta não é só a apreciação do Ipea, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do governo federal; ela não é muito diferente da classificação da Experian, líder mundial em análise de crédito pessoal: R$320 a R$1.120.

Ainda assim, há quem não se convença disso. E há um argumento válido para questionar esses números. O custo de vida é vastamente diverso em um país com dimensões continentais como o Brasil e tão concentrado economicamente em poucas capitais. A começar pelo aluguel, que é o maior item de despesa no orçamento da grande maioria das famílias. De fato, R$300 por pessoa ao mês não dá para tanta coisa em São Paulo ou no Rio quanto eventualmente possa em uma cidade pequena do Nordeste. Não só o aluguel é mais barato, como também economiza-se o transporte público. Então realmente uma única banda de renda não é uma classificação precisa para todo o país. Mas há outras.

Economia Informal

Uma forma de se distinguir as classes sociais é pela sua relação com o dinheiro e capacidade de planejamento financeiro. Neste critério, rico é quem vive de renda, médio quem vive de salário e pobre quem vive com o que tem para hoje. Isso implica que ricos, médios e pobres administram os seus bens e decidem sobre o que consomem de formas completamente diferentes. Ricos decidem de acordo com o seu saldo, médios com o seu olerith e pobres com o que têm na moedeira. Médios são portanto os trabalhadores formais, assalariados. São também os pequenos empreendedores, cujas pequenas empresas lhes dão sustento, mas não têm valor de venda senão pelos seus equipamentos. Pobres são trabalhadores informais, sem direitos trabalhistas, sem previsibilidade de renda, sem capacidade de poupar para a velhice ou proteger-se dos riscos da vida. São também os microempreendedores, que fazem serviços espúrios (i.e. bicos) e não têm registro. Portanto uma boa medida para ver se a classe média aumentou é verificar se a economia informal diminuiu. E foi exatamente isso o que aconteceu.

Em 2003 a economia informal representava 21% do PIB e em 2014 caiu para 16%. Diminuiu em 1/4. Uma em três pessoas economicamente ativas hoje ainda estão na economia informal (DIEESE). São 26 entre 79 milhões. Portanto, há 12 anos atrás, eram 35 milhões na informalidade, e 9 milhões ascenderam à classe média.

Gráfico via: http://bit.ly/1WAdO3f

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