A maconha abre a porteira

A maconha abre a porteira


Primeiramente publicado na Revista Tamoios.


É verdade: a maconha abre a porta para as outras drogas. Abre porque o fornecedor é o mesmo. E a maconha é o ítem básico na sua linha de produtos. A conquista do cliente é relativamente simples, pois não envolve injetar-se, esquentar pedras ou aspirar pós – gestos que não estão no cotidiano de quem não as consome. A indústria do tabaco fez o favor de familiarizar a todos com o ato de fumar. E a maconha não é mais perigosa do que o amendoím; só afeta quem é sensível, ainda que possa ser gravemente.

Ao comprar maconha, o cliente se familiariza com o fornecedor, toma confiança, e a maconha abre a porteira para que o traficante lhe ofereça o upgrade. O traficante não precisa nem lucrar com a maconha. Pode até vendê-la com prejuízo, como faz o fabricante de impressoras, que depois fatura em cima das tintas. A maconha vai de brinde, como aquelas torradas com pastinha que se experimenta no supermercado.

Está aí então a chave para embolsar a capilarização do tráfico pela sociedade: não é a maconha que abre a porteira, mas sim a sua proibição. Sem ela o produto passa a ser vendido na padaria, ao lado dos nicotinoides, e o traficante perde a sua reserva de mercado. Perde também a chave da porteira. Fica do outro lado da cerca tentando o transeunte com pedras, pós e agulhas. Boa sorte!

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