Rolêzinho na Bastilha

Rolêzinho na Bastilha


(null)Há uns 20 anos atrás, antes dos sequestros relâmpagos, a frebre dos assaltos era roubar os tênis dos bacanas. Hoje rouba-se a loja inteira. São casos isolados entre os participantes dos rolêzinhos, claro, mas o desejo de poder consumir o que consomem as classes altas é o mesmo. Por isso querem ocupar espaços a que não pertecem.

Quem estava nas ruas nas manifestações de junho? Segundo o MPL, uma dúzia de universitários zapatistas, eram os pobres e emergentes das periferias, excluídos do acesso à cidade pelo custo do transporte público. No entanto, a pesquisa conduzida na época pela PiniOn revelou que pelo menos 500 mil dos que foram às ruas eram das classes A e B. Surpresa? Não. Afinal, quem da classe C, que trabalha o dia todo para pagar uma faculdade à noite, tem tempo para fazer manifestação? Assim como os cara-pintadas em 92 e a Marcha da Família em 64, foi mais uma vez uma protesto daqueles que têm contra aqueles que querem ter. Não foi à toa que a agenda dos protestos guinaram para a direita.

Emergente não faz passeata; faz rolêzinho. Sua ideologia, assim como a da classe médio mundo afora, é o consumo. Não querem ser excluídos – é claro – mas não estão interessados em nenhuma revolução. Sua porta de saída é a ascenção social, a mesma que usaram para irem além de seus pais. São os primeiros em casa a fazerem faculdade, a ter dentes e cabelos bem cuidados… a ter passaporte! Têm direitos que seus pais jamais se sentiram no direito de ter. E querem mais. Não querem mais ser excluídos de bares, lojas, restaurantes e bairros antes reservados aos bem nascidos. Ultrapassam a barreira invisível que seus pais não ousaram atravessar, e lá cantam vitória, na batida do funk.

Há 225 anos atrás, uma classe média emergente tomou a Bastilha, símbolo máximo de opressão da aristocracia francesa. Hoje a nova classe média brasileira toma o Shopping Center. Só que dessa vez quem está preso lá dentro não é a plebe; é a nobreza. Oxalá a liberte!

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