Nem sociais, nem raciais. Cotas meritocráticas.

Nem sociais, nem raciais. Cotas meritocráticas.


Os críticos das cotas dizem que elas deturpam a lógica meritocrática e acabam levando pessoas despreparadas para a universidade. Mas o que há de meritocrático em conseguir entrar na universidade porque conseguiu pagar uma escola particular melhor que a pública? Para alguns a solução disso é ter cotas sociais, baseadas em renda. O problema disso, como em tudo que é baseado em renda, é que ela é auto-declarada e exige uma série de controles para que não haja abusos. Que tal então reservar lugares para os melhores alunos de cada escola?

Como funciona?

Fazemos dois rankings com a pontuação dos alunos no ENEM, um geral e outro por escola. No por escola, listamos primeiro todos os melhores alunos de cada escola, em ordem de nota. Depois os segundo melhores, e assim por diante. Agora percorremos as duas listas um a um, e vamos preenchendo as vagas. Cada aluno que entra em uma vaga sai das duas listas. Repetimos o processo até preencher todas as vagas.

Vejamos um exemplo. Temos 5 escolas – A, B, C, D e E – com 5 alunos cada, e 10 vagas. As escolas C e E são as mais fortes, A e B são médias, e a D é a mais fraca. Sem cotas, preencheríamos as 10 vagas com os 5 alunos da E, os 4 melhores da C e o melhor da B. Ninguém da A ou da D, as mais fracas. Com as cotas meritocráticas, note que aprovamos o melhor aluno de cada escola, todos os da escola mais forte e só os dois melhores da C. Os que entram pelas cotas mesmo são o melhor aluno da D e o melhor da A, que tomam o lugar do 3o e 4o da escola C.

Neste exemplo são só 2 que entram pelas cotas, mas isso são 20% das vagas, e num exemplo simplificado com apenas 5 escolas com 5 alunos cada. Quando há milhares de escolas e milhões de vagas, as vantagens das cotas meritocráticas se tornam mais evidentes.

Mas e se cada escola tiver diferentes quantidades de alunos? Esse geralmente é o caso mesmo.  É muito mais fácil ser o 4o numa escola com 250 alunos do que numa com 2.500. É fato, mas isso é fácil de se corrigir. Basta equalizar pelo número de alunos. Na primeira leva, entra o melhor aluno da escola menor e os 10 melhores da escola maior. Na segunda, o 2o melhor da escola pequena, e mais 10 da escola grande. E assim por diante.

Qual é a vantagem?

Um dos problemas que as cotas sociais e raciais buscam corrigir é o acesso desigual a escolas de melhor e pior qualidade. De fato, sem equidade na concorrência não é meritocracia; é marmelada. As cotas meritocráticas corrigem isso trazendo para à frente da lista os melhores de cada escola. Esses são alunos que despontaram entre os seus pares; fizeram o melhor uso entre eles dos recursos que tinham à disposição. Com real possibilidade de ter sucesso, aumenta o incentivo para os alunos nas escolas mais fracas se aplicarem e fazer o máximo uso do que têm disponíveis. Da mesma forma, cria-se o incentivo para que os piores alunos das escolas mais fortes não se acomodem. Não há estigmatização tampouco, pois esses que entram com cotas são visivelmente os melhores das suas escolas, e possivelmente até mais capacitados para aprender que os alunos medianos das escolas mais fortes. O sistema simplesmente corrige a desigualdade de oportunidades, e seleciona com base nos méritos individuais mesmo. E assim corrige também o viés social e racial que tem a seleção do ensino superior, uma vez que estes têm menos chances de serem selecionados por só terem acesso a escolas mais fracas.

Alguém pode tirar vantagem?

É notório o problema da auto-declaração nas cotas raciais. Será que as cotas meritocráticas também criam incentivos despropositados para que tirem vantagem delas? Uma das coisas que poderiam fazer é se transferir para as escolas mais fracas no último ano do ensino médio para avançarem no ranking. Para evitar isso ajustamos a colocação de cada um de acordo com a média das colocações que teria em cada escola em que estudou, ponderada pelo número de anos que estudou em cada uma. Assim um aluno médio de uma escola forte que busca avançar no ranking mudando para uma fraca, ainda terá uma colocação média nesta escola. Os seus pontos não se alteram, então ele ainda tem as mesmas chances no ranking geral, e com o ajuste no ranking por escola também.

Conclusão

As cotas meritocráticas não promovem igualdade; promovem equidade. Elas efetivamente corrigem os vícios de desigualdade na concorrência por vagas no ensino superior, e verdadeiramente selecionam os melhores alunos, não os alunos que simplesmente tiveram melhores oportunidades.

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