Meninos maus que perseguem meninas boas

Meninos maus que perseguem meninas boas


Está em curso uma enorme campanha de difamação dos homens. É uma campanha em escala global, que vai até o ápice da organização humana: a Organização das Nações Unidas. Em março deste ano, Phumzile Mlambo-Ngcuka, Secretária-Geral Assistente da ONU disse, inequivocamente, que assédio virtual é equivalente a violência física contra a mulher (“U.N. Says Cyber Violence Is Equivalent to Physical Violence Against Women”Time, 24.09.2015). Ou seja, mulheres sofrem assédio virtual, homens não. Como entram os homens nessa foto então? Eles são os assediadores, ora. Ou no mínimo são coniventes.

Já vimos essa manipulação linguística antes (“O Dia do Homem Mau”, O Contraditório). Divide-se a população em duas partes, aponta-se as agressões ou injustiças que sofre uma delas, e omite-se a outra. É um jogo de sombras. O que fica na cabeça de quem lê ou escuta é a silhueta de que a outra parte não sofre agressão ou injustiça alguma. São portanto privilegiados. Muito provavelmente culpados. No mínimo cúmplices. E, se por acaso alguém apontar que são agredidos também, rapidamente aponta-se que agridem-se entre si. Na verdade, um pouco mais ardiloso que isso: aponta-se que ‘agridem a si mesmos’. Parece a mesma coisa, mas não é. O truque é transformar indivíduos em coletivos, e falar deles como se fossem uma pessoa só. Ou, no mínimo, todos iguais (onde já ouvimos isso, “os homens são todos iguais”?). No Brasil, por exemplo, a grande maioria das vítimas de homicídio são negros. E grande parte dos assassinos também (na verdade só 5% dos casos de homicídios são solucionados no Brasil, mas basta ver que negros são sobre-representados nas nossas prisões). Ou seja, “os negros estão se matando”. Como isso te soa? Se te soa como Hitler ou Klu Klux Klan, você não estará muito longe do feminismo contemporâneo:

María del Prado Esteban, "Legislar contra el amor: La Ley de Violencia de Género y la construcción del Estado policial", la haine, 20.06.2010.

María del Prado Esteban, feminista anarquista, e co-autora de “Feminicidio o auto-construcción de la mujer”, (2012).

“Sexismo, que é a essência da Lei de Violência de Gênero, é uma ideologia da mesma natureza que o racismo, pois é um essencialismo biológico. Da mesma forma que os nazistas usaram o sentimento anti-judeu para formar sua base de apoio, instigando o ódio irracional e alimentando o emocionalismo mais exaltado, a misandria está sendo utilizada hoje pelo poder com a mesma função. Esta doutrina, e os hábitos e padrões de comportamento que o adestramento incessante e a aplicação das chamadas leis de discriminação positiva criam nas mulheres, farão renascer filosofias e organizações de recorte fascista, que, em muitos casos, terão um rosto feminino. Por isso que, entre as fontes das quais se nutre o feminismo de Estado, se encontram correntes que foram falsamente descritas como anti-sistema, como o movimento SCUM, que já pelo nome (é a sigla de Sociedade pela Castração dos Homens) é um legado fascista.”

– María del Prado Esteban, “Legislar contra el amor: La Ley de Violencia de Género y la construcción del Estado policial”, la haine, 20.06.2010.

Por que essa necessidade de manipular a linguagem?

Simples: porque a mensagem é falsa. A verdade é que a maioria das vítimas de assédio na internet são homens, não mulheres. No final do ano passado (out 2014), o Pew Research Center, mais renomado instituto de pesquisa de opinião do mundo, entrevistou 2.849 internautas sobre assédio online. Deles 40% já haviam sofrido alguma forma de assédio, 44% entre os homens e 37% entre as mulheres.

  

“Ah, mas – olha aí! – as mulheres são a maioria entre os que são assediados sexualmente.”

Primeiro, muito cuidado com essa linguagem; já vimos que ela é muito delicada e fácil de ser manipulada. Essa forma de colocar as coisas novamente evoca a figura dos dois grandes grupos – “as mulheres” e “os homens” – como se fôssemos parte de uma grande gincana sexual, e tivéssemos 8 anos de idade. O que é verdade é que mais mulheres que homens são assediados sexualmente e se sentem perseguidas na internet. Porém mais homens que mulheres recebem todos os outros tipos de assédio virtual, e mais homens que mulheres são assediados na internet em geral. Então por que as campanhas contra assédio na internet só servem para proteger mulheres?

“Ah, mas quem assedia homem é mulher?”

De novo aquela do “eles se assediam”, “negros se matam”, e outras histórias da carochinha. Sim, é verdade que mais frequentemente quem assedia homens é homem. Porém também é verdade que mais frequentemente quem assedia mulheres é mulher:

Olga Khazan, "The Evolution of Bitchiness", The Atlantic, 20.11.2013.

Olga Khazan, jornalista, ex-Editora Global do The Atlantic.

“Em sua pesquisa na década de 1990, David Buss, Professor de Psicologia da University of Texas, descobriu que mulheres eram mais propensas que homens a difamar ou insultar suas rivais sexuais de duas formas. Primeiro, o fator ‘vagabunda’: fofocas espalhando que a rival é ‘fácil’, fez sexo com muitos, e está, basicamente, buscando sexo casual. Segundo, na aparência física: dizer que a rival é feia, gorda e uma impressionante variedade de outras coisas cruéis sobre a aparência física e modo de se vestir da rival.”

No seu livro, A Evolução do Desejo: Estratégias de Acasalamento Humano, Buss argumenta que mulheres fazem isso porque, evolutivamente, aquelas que estão dispostas a ter sexo casual minam os objetivos das mulheres que querem relacionamentos de longo prazo. Mulheres ‘vadias’ transmitem aos homens que tudo bem não se comprometerem porque sempre haverá alguém disponível para dar o leite de graça, por assim dizer. A difamação pelas rivais visa, então, prejudicar a reputação dessas mulheres livres.”

– Olga Khazan, “The Evolution of Bitchiness”, The Atlantic, 20.11.2013.

E isso não é nenhuma novidade, é?

Marília Neustein, jornalista, Estadão.

Marília Neustein, jornalista, Estadão.

“É muito comum ver por aí mulheres que batem no peito e se dizem feministas, mas que traem as amigas em competições perversas pela atenção de homens. Mulheres que chamam umas às outras de vagabundas, fúteis, gordas. Que julgam as outras pela maneira como elas se relacionam com os chefes, com os maridos, com o trabalho. Que passam horas a fio criticando de forma violenta a escolha do parto que a amiga fez, o jeito como a outra gasta seu dinheiro, a amiga que optou por deixar de trabalhar. A que trabalha e deixa os filhos com a babá. A que não tem babá e que não se cuida. Mulheres que não pensam duas vezes antes de destruir a autoestima de uma semelhante.”

– Marília Neustein, “O machismo das mulheres”, Estadão, 9.11.2015.

Se mulheres assediam mulheres, homens assediam homens, pessoas assediam pessoas, por que essa complicação? Não é mais fácil simplesmente combater o assédio?

Claro que é. Mas não é esse o propósito. O propósito é, como bem colocou acima a María del Prado Esteban, espalhar a misandria. Jim Macnamara, Vice-Reitor da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, conclui no seu livro A Mídia e a Identidade Masculina: Fazendo e Refazendo os Homens (2006), em que analisou 2.000 artigos e programas de rádio e televisão, que 75% das vezes em que homens são mencionados, eles são retratados como vilões, agressores, tarados ou mulherengos. Kathirine Young e Paul Nathanson, Professores da Universidade de McGill, no Canadá, e autores de Espalhando a Misandria: Ensinando a Desprezar os Homens na Cultura Popular, e de Legalizando a Misandria: da Difamação Pública à Discriminação Sistêmica dos Homens:

Katherine K. Young, Ph.D., Professora de Estudos Religiosos, Universidade de McGill, Canadá.

“Começamos a ver um padrão emergir, e nos surpreendemos com quão extensamente a misandria está representada. Com isso e com o fato de que não havia absolutamente nenhuma crítica a esse respeito em lugar algum. Simplesmente não é levado a sério. A misandria se enraizou tanto na nossa cultura que poucas pessoas – incluindo homens – a reconhecem. Problemas assim deveriam soar muito familiares. São precisamente os mesmos que surgiram há 30 anos, em conexão a discussões sobre como mulheres eram retratadas na cultura popular. É parte de uma fórmula na nossa cultura em que mulheres são retratadas como vítimas, deixando para os homens o papel de algoz. É uma abordagem ideológica que insiste em que o mal vem ‘deles’. Este ‘eles’ muda ao longo do tempo, mas é sempre um outro reconhecível, seja de uma raça, nacionalidade ou sexo diferente.”

– Todd Hoffman, “Popular culture’s war on men”, McGill Reporter, Vol 34, 2001-2002, 8.11.2001.

E o problema não acaba aí.

“Torna-se uma questão fundamental de identidade para os meninos. Nosso senso de identidade é formado no contexto de qual é a contribuição distintiva que fazemos à sociedade. Se tudo que um garoto vê são imagens negativas associadas aos homens, ele só pode escolher entre uma identidade negativa ou nenhuma identidade.”

– Katherine K. Young, Ph.D., Professora de Estudos Religiosos, Universidade de McGill, Canadá.

Dr. Macnamara concorda:

“Imagens negativas de homens não são exemplo para meninos saberem o que significa ser homem, e não são base para auto-estima. A imagem idealizada do metrossexual – em grande parte uma invenção da mídia – só contribui ainda mais para a confusão sentida particularmente pelos meninos que tentam encontrar a sua identidade no mundo moderno. Em última instância, essa forma de retratar homens pode custar caro à sociedade, em termos sociais e até financeiros, como na saúde masculina, na explosão do suicídio masculino e na desintegração das famílias.”

– Jim Macnamara, Vice-Reitor da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália em “Men become the main target in the new gender wars”, PHYS, 27.11.2006.

E a ONU? Não se contentando em manipular a linguagem para espalhar ódio, os representantes da ONU menipulam seus números também. Só não muito bem. A ONU diz que 73% das mulheres já sofreram assédio na internet. Vamos pensar juntos, ONU… Quantas mulheres no mundo – na Índia, na China, na Indonésia, Paquistão e Nigéra – têm acesso à internet? No Brasil nem metade (IBGE, 2015). A Dra. Christina Hoff Sommers, ex-Professora de Filosofia da Clark University explica onde a ONU tropeçou:

 

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