Como não ser um idiota econômico
Todos os preços na economia são relativos. Quando se diz que algo subiu ou caiu, isso subiu ou caiu em relação a alguma outra coisa. Quando se diz que o tomate subiu, quer-se dizer que ele subiu em relação à moeda do país. Quando se diz que a própria moeda caiu, está se comparando ela com outras moedas, mais provavelmente com a moeda mais líquida no mundo, hoje o USD. O que se conclui então da moeda do país estar caindo em relação ao USD? Não muita coisa; não dá para saber se é o USD que está se valorizando ou o BRL que está se desvalorizando. Para tirar a teima, tem-se que comparar com outras moedas. No caso do USD é fácil: tem um índice que já faz isso, comparando-o a uma cesta de outras moedas.
Este índice do USD aponta que no último ano o USD se valorizou 25% contra as mais fortes moedas do mundo, e no último mês voltou a se valorizar. Por que? Por duas razões:
1. Desde que a economia estadunidense teve o melhor trimestre em 11 anos no final de 2014, as expectativas do mercado são positivas para o USD.
2. Não só uma das mais importantes componentes da cesta é o EUR, como o aumento das incerteza em torno das negociações da Grécia, promovem a busca por investimento seguros e líquidos, dos quais os títulos de dívida dos EUA ainda reinam incontestes. Eis o câmbio USD/EUR:
“Ah, mas o real perdeu mais!” O AUD (dólar australiano) perdeu mais ainda!!
De fato, contra o AUD, em julho, o real se valorizou:
Mas, por que comparar com a Austrália? Porque é uma das economias com matriz produtiva mais parecidas com a brasileira: grandes produtores e exportadores de minério de ferro e de produtos agrícolas. E em grande medida têm o mesmo cliente: a China (não esquecendo que a Bolsa de Xangai despencou pouco dias atrás). E se de fato compararmos o desempenho das bolsas de Sydney e São Paulo, vemos que ambas têm, desde meados de abril, respondido praticamente iguais à crise na China e na Grécia e à retomada dos EUA:
Conclusão
Sempre que alguém disser que uma coisa caiu por causa deste ou daquele evento, vale perguntar: “caiu em relação ao quê?” A turbulência política no Brasil pode estar impactando a moeda e as ações? Sem dúvida, porém a turbulência política no Brasil é ‘troco em moeda’ comparado com o que se passa hoje na Europa, no Oriente Médio e nas eleições presidenciais nos EUA. É um pequeno blip no grande eletrocardiograma do mercado financeiro.
Declaração: estou atualmente comprado em Brasil e vendido em Austrália, de forma que o melhor desempenho do Brasil em relação à Austrália me favorece financeiramente.
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