Crise entre as famiglias brasileiras

Crise entre as famiglias brasileiras


Ontem re-assisti O Poderoso Chefão. Para quem não se lembra, Nova York e New Jersey estavam divididas entre 5 ‘famílias’. Havia uma preocupação constante em se evitar uma guerra entre elas. Buscavam sempre entrar em acordos que preservassem o equilíbrio.

Eu não sei de nenhum país capitalista que não avançou sem que o Estado fosse efetivamente construído por um grupo empresarial coeso. Na Coreia foram os chaebols, no Japão os keiretsu, nos EEUU foram Carnegie, DuPont, Hearst, JP Morgan & cia. Tenho a impressão que enquanto não há um conluio entre os gdes empresários de um país para desenvolver um Estado que os beneficie conjuntamente, a competição entre eles, assim como no filme, resulta em bloodshed. É interesse de todos que se preserve a ordem institucional, se expanda o mercado interno, se amplie o estoque de mão-de-obra qualificada… Se eles não se empenham nisso, é porque estão reféns de um dilema do prisioneiro. Quem os aprisiona? A dependência de capital externo. Não é à toa então que quando o Brasil recebeu uma injeção de liquidez da China, ungiu-se o presidente das políticas sociais. Visto dessa forma, o que o precedeu também faz sentido: estabilidade monetária e reforma do Estado com o Fernando Henrique, abertura da economia com Collor e Itamar… Justapostas as gestões, emerge um plano de décadas digno da McKinsey.

Fast forward para estas eleições, e o que vemos? De um lado uma candidata que tem na sua base, não só os sindicatos, como também os industriais e os ruralistas do PMDB e do PSD. Do outro lado, em ambos adversários, temos o capital financeiro. Se estavam juntos na eleição de Lula, o que os dividiu? O interesse dos bancos, como colocou muito claramente o Giannetti no Valor, é “desmamar” a indústria. O da indústria, e também do agronegócio, é desmamar os bancos dos juros altos que fortalecem a moeda, e assim os prejudicam.

Há um mal estar na nação. Muitos se referem a uma cisão na sociedade, entre ricos e pobres, brancos e negros, religiosos e irreligiosos… Sombras na caverna; a dialética é material. O stand-off mexicano é entre o setor produtivo e o financeiro. Não à toa os candidatos se dividem também na política internacional. Da mesma forma que o Brasil elegeu um governo que tinha maior trânsito pelos países ‘vermelhos’ num momento em que eles estavam ganhando terreno, agora que o time azul da NATO se recupera, os interesses se dividem: os exportadores de produtos querem manter-se próximos do seu freguês chinês através do time BRICS, e os importadores de liquidez querem se reaproximar de quem volta a estar na crista da onda, trazendo até o Atlântico a Aliança do Pacífico.

No filme de ontem, Don Vito Corleone, encarnado em Marlon Brando, envelhece e se torna um alvo fácil para as outras famílias. Sob uma lógica Darwiniana, tomar-lhe o poder é praticamente uma imposição, pois quem se colocar contra terá que se subjugar aos outros. É um equilíbrio de Nash. O impasse se resolve com a morte de Vito Corleone, e a passagem do título de Don para o seu filho Michael, que entra para o crime na mesma hora em que Al Pacino entra para o cinema. O novo Don Corleone é quem então promove a transição de gerações nas outras 4 famílias.

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