Quem é Kim?

Quem é Kim?


Não vamos falar do Kim Kataguiri como pessoa; não estamos aqui para falar dos outros. Vamos falar do Kim como fenômeno. Um rapaz de 19 anos alçado ao posto de ícone de um movimento e de agente de mudança de toda uma nação é no mínimo notável.

Com 19 anos, ele não tem uma história de vida que lhe amealhou a bagagem que precisa uma pessoa para, sozinha, liderar e inspirar milhares, senão milhões, de pessoas. O seu talento para oratória é inegável, mas é preciso mais do que isso para liderar pessoas. É preciso conhecer o ser humano suficientemente para saber o que o move, o que o inspira. Mesmo os mais iluminados da história humana – de Jesus a Buddha a Gandhi – tinham pelo menos 30 anos quando se tornaram líderes.

Kim é uma fabricação. Não o menino de 19 anos que foi atropelado na estrada, de carne e osso, claro. O fabricado é o Kim que vemos na tela. Preparado, articulado, bem treinado com um discurso que se baseia em livros que ele não leu. Mas por quem?

“Em 15 de março, a coalisão chamada Movimento Brasil Livre conduziu um protesto com mais de 200.000 pessoas, o maior que São Paulo já viu desde as manifestações pró-democracia nos anos 80. O líder do movimento é Kim Katiguiri, uma estrela nascente do libertarianismo no Estudantes pela Liberdade, um aliado da Atlas Network.” (Atlas Network)

O que é essa Atlas Network?

“Por mais de duas décadas, esta organização [a Atlas Network] baseada em Virginia [nos EUA] tem trabalhado silenciosamente como o Johnny Appleseed dos grupos de anti-regulação [em referência ao missionário estadunidense que, sozinho, espalhou macieiras, uma espécie nova para a América, pelos estados de Pennsylvania, Ohio, Indiana, Illinois e West Virginia]. Com um orçamento modesto de US$4 milhões em 2003 e uma equipe de 8 pessoas, a Atlas Economic Research Foundation [renomeada Atlas Network] tem como missão semear o mundo com novas vozes do “livre mercado” [no sentido de laissez faire]. No seu relatório de 2003, curiosamente intitulado “Relatório do Investidor”, a Atlas anunciou que trabalhou com “70 novos empreendedores de think tanks em 37 países estrangeiros e vários estados dos EUA”, incluindo Lituânia, Grécia, Mongólia, Gana, Filipinas, Brasil e Argentina. A missão da Atlas, de acordo com John Blundell (presidente de 1987 a 1990), “é emporcalhar o mundo com think tanks de livre mercado”. (SourceWatch)

E esse Estudantes pela Liberdade, o que é?

“Durante o recente Seminário de Verão no Brasil da Atlas, organizado pela Ordem Livre e patrocinado pela Smith Family Foundation, um grupo de estudantes decidiu começar um projeto ambicioso: criar um Students for Liberty brasileiro (Estudantes pela Liberdade – EPL). Esta organização conectaria e proveria apoio a jovens libertários por todo o país através de grupos de estudantes, congressos regionais e nacionais, e mídia social. Como primeiro passo, o EPL começou a reconstruir um protótipo de organização de estudantes iniciado em 2010. Desde o Seminário de Verão, os estudantes se encontraram e trocaram ideias através de fóruns e encontros. O EPL será lançado com mais de 50 líderes em universidades por todo o país e lançarão uma publicação acadêmica. Os fundadores esperam que até dezembro de 2012, o Estudantes pela Liberdade terão líderes em todas as universidades públicas e nas principais universidades privadas. Vários líderes estudantis participarão do programa de treinamento mundial do Students for Liberty.” (Atlas Network)

E assim começou…

Jeffrey Tucker: “Nos conte como está o EPL no Brasil.”
Juliano Torres: “Começamos 2 anos atrás, logo após um evento da Atlas…”

Quem é Jeffrey Tucker??

Jeffrey Tucker é uma das principais referências do movimento libertário em todo mundo. Presidente da Laissez Faire Books, consultor editorial do Mises Institute e CEO da Liberty.me, Tucker é autor de obras como “Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo” e “A Beautiful Anarchy: How to Create Your Own Civilization in the Digital Age“, e seus artigos estão presentes traduzidos nos mais diversos idiomas ao redor do globo.” (Liberzone)

Instituto Mises?…

“Talentosos jovens empresários e empreendedores, como Hélio Beltrão no Brasil, continuam a desempenhar papéis fundamentais nos Institutos Mises espalhados pelo mundo.” (Forbes)

Hélio Beltrão que foi ministro do Planejamento de Costa e Silva e da Junta Militar de 1969, da Previdência Social, e da Desburocratização de Figueiredo, ex-presidente da Petrobrás, e grande acionista do Grupo Ultra? Não, o filho:

“Graduado em finanças com MBA pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Foi executivo do Banco Garantia [fundado e presidido por Jorge Paulo Lemann até vendê-lo ao Credit Suisse em 1998], Mídia Investimentos e da Sextante Investimentos. É fundador e membro do conselho consultivo do Instituto Millenium e fundador-presidente do Instituto Mises Brasil. Também é membro do conselho de administração do Grupo Ultra, da Le Lis Blanc, da Artesia Investimentos, do conselho consultivo da Ediouro Publicações e da Lab SSJ.” (Instituto Millenium)

Mas o pai ter participado do regime militar não tem a ver com o filho, tem? Não necessariamente. Mas o Grupo do qual ele é conselheiro ter participado tem:

“Os caminhões da Ultragás eram usados nas emboscadas preparadas pela Oban, e em troca, a empresa operava com um “capital de giro negativo”, como relata o filho de Boilesen no documentário “Cidadão Boilesen”, dirigido por Chaim Litewski, recebendo gás da Petrobrás para pagar no mês seguinte. O empenho de Boilesen em manter o avanço do capitalismo no Brasil e sua proximidade aos militares rendeu-lhe um assassinato violento por membros da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), que o mataram a tiros em São Paulo, em 1971.” (iG, 29.03.2014)

O Grupo Ultra é hoje a 4a maior empresa do país, e uma das únicas 7 brasileiras entre as 500 maiores empresas do mundo. Em 2013 ela faturou R$61 bilhões.

E qual seria o objetivo dele com o Instituto Mises Brasil? Ele explica:

“Daqui a uns dez anos, a sociedade estará pronta para nossas ideias. Até 2030, teremos eleito pelo menos 1 Presidente da República, conquistado 15 a 20% do Congresso, e eleito 3 governadores entre os 10 maiores estados do Brasil.”

Mas de quem é esse Mises Institute?

Lew Rockwell é um autor e editor libertariano estadunidense, auto-intitulado anarcocapitalista, promotor da Escola Austríaca de Economia, e fundador e presidente do Ludwig von Mises Institute (Wikipédia). Por uma cruel ironia do destino, foi ele mesmo quem defendeu – de próprio punho! – o direito de motoristas a dirigirem nas condições que levaram à hospitalização do Kim Kataguiri.

Mas o Helio Beltrão também está ligado à Atlas? Está:

“A Atlas Network trabalha com mais de 475 organizações pelo livre mercado [laissez faire] em mais de 90 países. Estudantes pela Liberdade é só mais um dos aliados trabalhando para eliminar o que está barrando a liberdade. O Instituto de Estudos Empresariais organizará o 28o Fórum da Liberdade de 13 a 14 de abril em Porto Alegre. O presidente da Atlas Network, Dr. Alex Chaufen, será um dos palestrantes convidados. O Instituto Liberal semeou a liberdade nos anos 80, quando começou a traduzir textos clássicos do liberalismo para o português. O Instituto Millenium tem influenciado ativamente o clima intelectual, promovendo a liberdade através de aulas, palestras e encontros por todo o Brasil. Eles também produzem um podcast que discute os problemas brasileiros. O Instituto Ordem Livre oferece cursos de verão e inverno para estudantes buscando aprender e promover a liberdade. O Instituto Ludwig von Mises Brasil também tem sido um recurso indispensável, oferecendo profundas e prescientes análises da política e economia brasileira.” (Atlas Network)

Quanta coisa! Quem criou tudo isso??

“O Instituto Millenium, de cunho mais liberal, existe desde 2005 e tem entre os fundadores ou mantenedores, além de Helio Beltrão, Gustavo Franco, Paulo Guedes, Daniel Feffer, Fábio Barbosa e João Roberto MarinhoRodrigo Constantino, colunista da revista “Veja” e nêmesis da esquerda, é o presidente do Instituto Liberal, no Rio. O diretor-executivo, Bernardo Santoro, é o guru econômico do pastor Everaldo, único candidato à Presidência a falar abertamente de privatizações. O IFL (Instituto de Formação de Líderes) – que começou em Belo Horizonte e é patrocinado por Salim Mattar, dono da maior empresa de aluguel de veículos do país, a Localiza, e David Feffer, do Grupo Suzano – tem como meta “conscientizar jovens empreendedores sobre a importância do livre mercado [laissez faire], da propriedade privada e da redução do tamanho do Estado”. O Instituto de Estudos Empresariais, no Rio Grande do Sul, foi fundado pelo empresário William Ling, tem a bênção de Jorge Gerdau, do gigante da siderurgia, e costuma reunir até 6.000 pessoas em seus eventos. Já os Estudantes pela Liberdade formam grupos de estudos em torno da obra de economistas conservadores como Hayek, Mises e Milton Friedman. O slogan de boa parte desses jovens é “menos Marx, mais Mises”. O grupo ­é uma franquia do americano Students for Liberty, ligado ao Cato Institute, que é financiado pelos irmãos Koch, grandes patrocinadores de causas conservadoras nos EUA.” (Folha de São Paulo, 5.10.2014)

Pastor Everaldo?? Sim, lembra?

 

Como é que o pastor Everaldo entra nessa história toda??

“Guardadas as proporções, há vários pontos em comum entre o proselitismo ultraconservador no Brasil e nos Estados Unidos – onde a partir dos anos 70, tempo de recessão e crise política que resultou na renúncia de Richard Nixon, uma série de think tanks passou a desafiar o consenso social da Era Roosevelt, iniciada com o New Deal.

Como também vem se esboçando no Brasil, a direita americana ocupa, grosso modo, duas vertentes que se entrecruzam: uma, ligada às igrejas neopentecostais, dá ênfase aos “valores morais”; outra, liberal, prega cortes nos impostos e na previdência social. Os libertários, uma subcorrente desta última, se distinguem por rejeitar qualquer ingerência na vida do indivíduo, defendendo por isso a legalização das drogas. Os propagandistas dessa direita ressurgente tacharam Barack Obama de socialista e muçulmano. Seu subproduto mais recente é o Tea Party, movimento que se tornou influente no Partido Republicano e acaba de lançar seu primeiro pré-candidato à Presidência, o senador pelo Texas Ted Cruz.” (Revista Piauí, Ed 103, abril 2015)

E isso tem a ver com os irmãos Koch? Quem são?

Os irmãos Koch são filhos de Fred C. Koch, que fundou as Koch Industries, a segunda maior empresa de capital fechado nos EUA, da qual detém 84% [juntos, têm US$100 bilhões, mais que o Bill Gates]. Depois de comprarem as ações dos outros dois irmãos, eles controlam as empresas familiares, a fortuna que herdaram do pai, e as fundações da Família Koch.

Os irmãos são grandes contribuidores das campanhas de think tanks conservadores e libertarianos. Eles financiam e apoiam ativamente organizações que contribuem substancialmente para os candidatos Republicanos, e fazem lobby contra a saúde pública e leis de proteção ao meio ambiente. Eles doaram mais de US$100 milhões a dezenas de organizações promotoras do livre mercado [laissez faire]. Em 2008, as três principais fundações da família Koch contribuíram com 34 partidos políticos e ONGs, três das quais eles fundaram, e várias das quais eles presidem. (Wikipédia)

 

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