Para onde vamos com Marina?

Para onde vamos com Marina?


Marina

Para saber para onde estamos indo, é sempre bom saber de onde estamos vindo. O que é o fenômeno Marina? Como é que uma líder comunitária, sem partido, sem aliados próprios, senão por um séquito no enclave ambientalista, que ainda é mínimo na sociedade brasileira, conquistou a liderança da oposição em tão pouco tempo? “É um caso único de virada em eleições presidenciais em toda a história do mundo ocidental”, diz o historiador Marco Antonio Villa (TVeja, 29/08/14).

“Os Silva são diferentes”, diz Eliane Brum no El País, referindo-se a Lula e Marina. Lula é o retirante nordestino, que foi para São Paulo, fugido da seca e da fome. É a história de 13 milhões de brasileiros, que compuseram o grande êxodo rural de meados dos anos 60 a meados dos 80. Foram para os centros urbanos do sudeste, buscando oportunidades de ascensão no novo ciclo desenvolvimentista do regime militar. Lula era um deles. Apesar de ter que largar a escola aos 10 anos para ajudar a sustentar a família, se formou no SENAI e conseguiu colocação na indústria automobilística quando esta estava no seu auge de desenvolvimento. Só com isso já haveria vencido. Mas, não se dando por contente, teve que ser líder do movimento sindical, fundar um partido e se tornar presidente da república. É uma figura não menos mítica que a de Arnold Schwarzenegger.

Marina representa um outro mito, porém um mito não obstante. Marina também veio da pobreza extrema, não aprendeu a ler e escrever até os 16 anos de idade, trabalhou como empregada doméstica, mas pôde não só se graduar, como também se pós-graduar. Ela representa um novo conjunto de aspirações e valores. De um lado ela espelha o conservadorismo moral da nova classe média, e de outro o conservativismo ambiental da nova classe alta. Apesar de ser também filha de nordestinos, que foram para o Acre “tentar a sorte” durante o 2º Ciclo da Borracha, Marina resgata para o imaginário da elite brasileira, o Norte, a floresta. Para a classe média, é símbolo de diligência e disciplina. É menina estudada e bem comportada.

O Lula reconciliou a tensão emergente do êxodo rural entre nordestinos e sudestinos, Marina reconcilia a tensão entre a antiga classe média e a nova. É um fenômeno não menos mágico que o de Lula. É justamente a ameaça que a nova classe média representa à antiga – ocupando seus espaços nas ruas, rodovias, shoppings, aeroportos e até nas linhas de produtos e nos canais de TV – que move o seu ódio aos programas sociais, nascidos em gestões pregressas, porém largamente ampliados e intensificados nas gestões Lula/Dilma.

Marina é isso: o novo Brasil, o Brasil de classe média, que Lula sempre ambicionou, e por fim ajudou a criar. Foi um projeto de 40 anos, que começou em 1975, quando foi eleito Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo. A história se repete. Um outro líder também levou 40 anos para liderar seu povo até uma nação livre, liberto do seu cativeiro, em uma outra caatinga. Tomou todo esse tempo para atravessar uma distância que, mesmo a pé, tomaria no máximo 4 semanas. A distância, porém, não era física, e sim mental. Foram precisos 40 anos para que uma nova geração nascesse em liberdade, para formar um povo livre na terra que jorrava leite e mel.

Assim é a nova classe média brasileira. São filhos de gente que não pôde estudar, muitos dos quais analfabetos, que nunca tiveram acesso a serviços públicos decentes, excluídos da sociedade, e sujeitos a condições de trabalho semi-escravo. Eles não; estudaram, se graduaram, se pós-graduaram e até fora foram estudar. É uma gente que se vê no direito de ter direitos. É gente que Lula não pode representar.

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