Cotas: quebrando o Tostines

Cotas: quebrando o Tostines


1891123_726764230690903_1107199311_nNegros têm menos oportunidades porque são mais ignorantes. São mais ignorantes porque têm menos oportunidades.

Cotas raciais não fazem ‘justiça histórica’; não “corrigem erros do passado”. Não podemos corrigir o passado; só o futuro. Na verdade, é bom que os erros do passado permaneçam errados para sempre nos anais da história para que nunca mais sejam repetidos. Cotas raciais também não fazem justiça social. Pelo contrário: elas privilegiam negros pobres em detrimento de brancos pobres. Aliás, as cotas não são raciais, porque raça humana só tem uma (acreditar que há mais já é um bom indício de racismo). Salvo raras exceções não há racismo no Brasil. O que há é discriminação por fisionomia como correlato de nível social.

Gente “sem cultura” tem menos chances de “se dar bem na vida” (Pierre Bourdieu). Como a cultura se recebe dos pais, o ciclo se repete. E se agrava quando correlacionado à fisionomia. Um empregador não tem tempo nem recursos de avaliar a real competência de cada um no processo de seleção. Acaba usando, consciente ou inconscientemente, indícios correlatos. Nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio, 44,4% dos negros estão abaixo da linha de pobreza, contra 29,8% dos brancos (IBGE). Ou seja, um negro desconhecido é 50% mais provavelmente pobre que um branco. Se é pobre, teve menos acesso à informação, à educação e a um ambiente saudável. Isto é, não tem “cultura”. Assim o negro tem menos chances de ser contratado, restando-lhe os trabalhos menos disputados, com menos oportunidades de desenvolvimento e de agregar cultura para passar a seus filhos (OECD PISA In Focus 36, 2014). É um efeito Tostines, só que do mal.

As cotas raciais quebram esse ciclo vicioso. E não é por uma questão de justiça; é econômica mesmo. Imagine quantos negros talentosos aos quais não são dadas oportunidades de se destacar, fora do esporte e das artes. É um desperdício enorme de potencial produtivo. Desperdício esse nos custa em educação, em saúde, em segurança…

As cotas privilegiam sim um grupo em detrimento de outros, indo em direção contrária à meritocracia. É um custo, mas é um bom investimento. Estes beneficiados já poderão passar mais cultura para seus filhos, e eles terão melhores chances na escola e no mercado de trabalho. No momento em que a cor de pele deixa de ser indício de competência, as cotas perdem sentido. São portanto uma intervenção pontual no mercado a fim de fazê-lo mais meritocrático e competitivo.

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